"Nossa, como você agüenta estudar isso? “A linguagem – a fala humana – é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda a sociedade humana. Mas é também o recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias em que o espírito luta com a existência, e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na meditação do pensador. Antes mesmo do primeiro despertar da nossa consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta , prontas para envolver os primeiros germes frágeis do nosso pensamento e a nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as mais humildes ocupações da vida quotidiana aos momentos mais sublimes e mais íntimos dos quais a vida de todos os dias retira, graças às lembranças encarnadas pela linguagem, força e calor. A linguagem não é um simples acompanhante , mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento; para o indivíduo, ela é o tesouro da memória e a consciência vigilante de pai para filho” (Prolegômenos a uma teoria da linguagem)
"Você não enlouquece?"
Vamos por partes. Fico perguntando-me o por quê desse tipo de reação, pois ninguém pergunta a um pesquisador das ciências médicas se ele incomoda-se com o fato de dissecar ratinhos ou outro tipo de animal para a sua pesquisa. Será que tal pessoa não "enlouquece" por isso. Ah sim, a velha história de tudo a favor da ciência, que tais atos são para o bem dos humanos etc.
Não vou entrar no mérito dessa questão.
Para um lingüista, as coisas não são tão "cortáveis" assim. Acho que nessa ciência residem dois pontos que a tornam complicada. O primeiro é que, como disse acima, não temos como recortá-la de maneira efetiva, ou seja, os cortes são todos feitos para subdividi-la em níveis de análise. Mas na verdade, sabemos que a língua é um caos maravilhosamente organizado e que tais incisões são frutos de postulações teóricas, por mais empíricas que sejam. O segundo ponto é o instrumento de análise e o objeto analisado, pois a analisamos com ela mesma, usamos a própria para sua auto-definição. Seria a mesma coisa que um cientista usar um rato para cortar outro rato.
Abaixo, vou transcrever um trecho que, para mim, é uma declaração de amor à lingüística como ciência autônoma. Este trecho foi escrito pelo lingüista dinamarquês Louis Hjelmslev, fundador do Círculo Lingüístico de Copenhague:
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por The Cuckoo’s Nest
* 2:52 PM